Expedição Cone Sul, Diário de Bordo - Out/Nov 2013

15/10/2013 17:55
  • Elucubração.

Por que temos ideias que, para a maioria das pessoas, parecem malucas????

Sei lá, deve ser porque o ser humano está sempre a procura de novidades, de desafios. Não fosse assim, ainda estaríamos vivendo em cavernas e disputando comida com os animais.

Bem, independente de qualquer coisa, desde 2009 que existe esse projeto de viagem motociclística para Ushuaia, no sul da Argentina. Ideia de jerico para muitos, loucura para outros, mas para aqueles que sabem o real valor dessa empreitada ouvi muita coisa tipo “tô com inveja, inveja boa, dessa sua viagem”, “cara, pena que eu não possa te acompanhar”, e por aí vai....

Bem, lero leros a parte, vamos aos relatos da minha “loucura”, minha primeira loucura motociclística.

 

  • Dia 1- Natal/RN a Propriá/AL – 698 Km

Saída de Natal com sol, temperatura agradável e promessa de um dia maravilhoso na estrada.

Em João Pessoa “lasco-se”... Chuva... o que parecia ser um pequeno chuvisco virou a tormenta do dia.

Descobri, na pele e logo no primeiro dia, que o difícil de se viajar sozinho é que você não tem ninguém para dividir as dificuldades contigo, nem sequer para poder sacanear, mas isso acaba nos tornando mais fortes e, nessas circunstâncias, rodei quase 700 Km praticamente dentro d’água.

Etapa concluída, preparação para o próximo dia.

Notícia meteorológica: previsão de mais chuva para amanhã no meu trajeto. Oh Coitado.....

 

  • Dia 2- Propriá/AL a Ipirá/BA – 487 Km.

Coloquei as malas na moto debaixo de chuva. Choveu a noite toda. O dia promete...

Graças a Deus uns 50 km depois de Propriá a chuva deu uma trégua, trégua essa definitiva somente após Aracaju quando, finalmente, pude tirar minha capa de chuva.

Cheguei cedo a Ipirá/BA pois, domingão, tinha pouca gente na estrada.

Sim, está certo que hoje rodei um pouco, mas amanhã rodarei o dia inteiro, no Estado da Bahia, com um pouco mais no dia seguinte. Em apenas 2 dias de viagem e já estou no meu 5° Estado...

Amanhã o dia promete: 750 km de chão...

 

  • Dia 3- Ipirá/BA a L. E. Magalhães/BA – 756 Km.

Saída com chuva novamente, mas moderada. Poucos quilômetros depois ela parou e o sol predominou o dia inteiro.

Dia das curvas, muitas curvas, e da Chapada Diamantina. Região muito bonita, com montanhas e uma estrada maravilhosa para se deitar a motoca (pena que ela está pesadona e não dá para aproveitar toda a sua potencialidade nas curvas). Tem fotos já nessa etapa.

 

                                                   Chapada Diamantina – uma beleza sem igual

 

Ao descer as montanhas, deu um pouco de saudades da chuva. O sol veio forte... e bote forte nisso. Acho que se colocasse um termômetro na sombra ele marcaria uns 42° brincando. Tomei uma garrafa d’água e, em segundos, ela se esvaiu em suor pelo corpo (eu acho que não estava suando porque estava seco). Mas é melhor repor líquidos do que tê-los em excesso tanto pelo corpo quanto espalhado pelas bagagens.

 

                                             Visual muito bonito das serras da Chapada Diamantina

 

Uma cena triste: um monte de garrafas quebradas no acostamento (provavelmente uma carga que tinha virado) e aquele cheiro maravilhoso de cerveja. Somado à sede que estava sentindo, sentia-me como se estivesse sendo torturado pelo acaso kkkk.

Cheguei cedo em L. E. Magalhães. Meu “piloto automático” estava calibrado para 115 km/h mas, quando olhava no velocímetro, chegava aos 130 km/h invariavelmente (acho que era o calor mexendo com meu subconsciente).

A pilha do GPS surpreendeu: 2 dias e meio de atividade ininterrupta (em rota). BOM.

 

  • Dia 4- L. E. Magalhães/BA a Cristalina/GO – 676 Km.

Se ontem foi o dia das curvas, hoje foi o dia das retas, muitas retas. Teve um trecho de 210 km que, se tiveram 10 curvas foi muito (e tudo curvinha xoxó, bem fraquinhas).

Hoje cruzei os campos de soja e algodão. Tem algumas fotos que postei na "Galeria de Fotos" do blog que vocês poderão conferir. Fora isso, o sol brilhou, e esquentou, pra valer, não tanto quanto ontem, mas deu para suar um bocado.

 

                                                                        Nos retões da BR 020

 

Outra coisa: passar por Brasília no horário do almoço foi cruel... um trânsito "dus infernus". Parece que todo mundo vai para casa na hora do almoço em Brasília? Fora isso, parece que aumentaram o número de pardais pela capital federal. Antigamente até dava para dar uma aceleradinha entre um pardal e outro, agora tá um pardal em cima do outro....

 

  • Dia 5- Cristalina/GO a Lins/SP– 702 Km.

O dia amanheceu sisudo.

Nuvens encobrindo todo o céu.

No jornal da manhã previsão de chuva.

Pensei: - Vou me molhar de novo....

Graças a Deus que a galera errou nas previsões. O que era para ser um dia difícil, ficou excelente: viajar na sombra, no fresquinho, é muito bom. Sim, choveu um pouquinho já próximo à Lins.

Foi o dia do perfume dos laranjais e dos abacaxis de beira de estrada (30 abacaxis por 10 dilmas é brincadeira... mais barato que os da BR 101 próximo a João Pessoa).

Até agora foram 3.319 Km (de estrada, fora as erradas kkk) e estou atravessando o 9° Estado + Distrito Federal. Hoje sem fotos.

 

  • Dia 6- Lins/SP a Rio Negro/PR – 622 Km.

Dia dos desencontros/encontros. Desencontros pois me perdi umas 3 vezes. Encontros pois, quando ia me perdendo uma outra vez, consegui reparar o erro fazendo uma correção meio que no chute, mas que deu certo.

Mais um dia cheio de curvas. As estradas secundárias do Paraná são muito legais. Algumas estão com o asfalto não muito bom, mas as que estavam em boas condições permitiram apreciar paisagens muito bonitas, muito diferentes das que vemos no Nordeste/Centro-Oeste.

 

                  Estradas secundárias paranaenses: muito boas e com um visual de tirar o chapéu

 

Hoje predominou as araucárias e os pinheiros, fora morros de mais de 1300 m de altura. O frio também se apresentou, fazendo eu retirar algumas peças que pensei só usar mais para a “parte de baixo” da viagem.

 

                                                 Estradas muito agradáveis no interior do Paraná

 

Esses morros e curva começaram a fazer a roda traseira desgarrar um pouco algumas vezes. Achei meio estranho mas segui adiante, achando que era um tal de Valentino Rossi.

Ao chegar no hotel, como faço todos os dias ao final de cada jornada, besunto a corrente da motoca de óleo para ela agüentar firme o dia que se segue. Meio que sem querer fui dar uma olhada no pneu e, para minha surpresa, a lona já estava aparecendo. Fui de imediato verificar se era possível seguir viagem desse jeito. Perguntei, numa oficina motociclística perto do hotel, se o pneu agüentaria mais uns 500 km até Porto Alegre e o cara disse que não, fora o risco que eu estaria correndo (e que já tinha corrido até então).

Não teve jeito, tive que trocá-lo. Trocá-lo por uma marca não muito conhecida e com medidas menores que as originais de minha moto. Mas como não tenho cão......  "Segue o jogo".

 

  • Dia 7- Rio Negro/PR a Canoas/RS – 589 Km.

Parecia que iria ser um dia tranqüilo.

Bem, até Vacaria/RS, a viagem estava muito boa. O pneu trocado, apesar de mais fino, está cumprindo bem seu papel, o frio está controlado (andei entre 800 e 1300 m de altura onde o frio é um pouco maior, inclusive passei no ponto mais alto da BR 116 a 1245m de altura - quando vi a placa não deu tempo de parar para fotografar).

De Vacaria a Canoas, bem, um capítulo a parte. A BR 116 nesse trecho são curvas, mais curvas, mais um pouquinho de cruvas, sobe serra, desce serra, sobe serra de novo, curvas... e tudo isso entre 50 e 70 km/h, isso quando não se ficava atrás de um caminhão com pouquíssimos pontos de ultrapassagens e, quase sempre, "meio perigosos".

Abusei de serras.

Chegando em Canoas, verifiquei que o Google Maps está desatualizado mais uma vez. No ponto onde teria uma saída esta foi fechada e, como perdi a oportunidade, tive que dar um rolézinho até Porto Alegre para fazer um retorno meio que "forçado", passando por dentro de um posto de combustível. E eu reclamando dos retornos de Natal.

Pernoite feito, amanhã dia de descanso, graças a Deus.

Mas não vai ser moleza não... dia de lavar a moto e trocar o óleo/filtro dela, para ficar nos trinques para a outra parte da viagem.

Penúltimo dia de Brasil. A brincadeira está para começar.

 

  • Dia 8- Canoas/RS – Day Off.

Um dia para descanso. Era para ser...

Pela manhã fui levar a moto para trocar óleo/filtro. Depois tentei lavá-la mas só consegui agendar para o início da tarde. Fui então procurar um mercado para comprar suprimentos.

Nisso o dia se foi e nem consegui tirar uma pestaninha depois do almoço.

Amanhã, saída (complicada) de Porto Alegre mas com estimada de chegar cedo no destino.

 

  • Dia 9- Canoas/RS a Jaguarão/RS - 408 m.

Etapa curta mas não sem emoção.

Ao sair de Canoas, uns 20 km depois começou uma neblina que se estendeu por mais ou menos 70 Km. O problema é que, em alguns trechos, ela ficava densa o que prejudicava muito a visibilidade. Parei para tomar o café da manhã e, quando retornei à estrada, ela já havia se dissipado.

Daí por diante foi mamão com mel. Estrada boa, só paguei 1 pedágio (nos outros era livre) e o visual "di primêra".

 

Campos cultivados do sul do país, próximos à fronteira com o Uruguai

 

  • Dia 10- Jaguarão/RS - Parado para aguardar a chegada de um documento pelos Correios.

Esperando encomenda no hotel e pronto para fazer uma incursão nos Free Shops do Uruguai. O problema é que começou a chover (pelo menos não estou na estrada).

 

  • Dia 11- Jaguarão/RS a Colonia del Sacramento/URU –  568 Km.

O frio deu as caras, e de forma violenta. Preparei-me para enfrentá-lo achando que estaria tudo OK. Ledo engano... até umas 10 horas da manhã as mãos, com luvas à prova d’água + luvas de lã, não continham totalmente o frio e meus braços e pernas estavam gelados. Pena que a primeira pane a ir para a Parte III do Relatório da Moto foi o aquecedor de manoplas...

 

                                                                    Nos retões Uruguaios

 

No mais o Uruguai é muito bem sinalizado, muito melhor que a grande maioria das estradas brasileiras. O asfalto também é muito bom. Os pedágios então, maravilhosos (motos não pagam). Já comprei minha passagem (Buquebus) para atravessar o Rio da Prata amanhã.

Único detalhe não bom dos motoristas uruguaios: eles ultrapassam lambendo sua moto e cortam bem na sua frente. Tomei um susto na primeira ultrapassagem mas depois assimilei e fiquei mais arisco.

 

  • Dia 12- Colonia del Sacramento/URU a Cañuelas/ARG –  Travessia do Rio da Prata + 68 Km.

Foi uma das travessias de balsa mais longas que já fiz essa de Colonia del Sacramento a Buenos Aires. Não se avista Buenos Aires (e olha que Colonia del Sacramento é um dos pontos mais próximos de lá). A moto vai amarrada em duas cordinhas. Fiquei arisco mas deu certo. O Buquebus é muito confortável e rápido (1 hora de Colonia a Buenos Aires).

 

                                   Foto a bordo do Buquebus na sua chegada à Buenos Aires

 

Chegando em Buenos Aires deparei-me com uma cidade imensa... porém com trânsito caótico kkkkk.

Bem, para chegar na Ruta 3 eu teria que passar pelo meio da cidade. Perguntei a um cara e ele me deu um caminho meio sinistro... Perguntei a um senhor e ele me deu uma sugestão melhor, que utilizei.

Não é que deu certo? Sai na Ruta 3 "sem muitos problemas", quero dizer, com apenas um grande problema: não troquei reais por pesos argentinos; tinha apenas 7 pesos argentinos no bolso, mas vamos lá....

Rodei uns 5 km na rodovia e PEAJE (pedágio): 4 pesos. Paguei e segui. Mais um pouquinho e mais um PEAJE: 2 pesos. Começei a ficar preocupado mas mantive o ajuste e acelerei. Posto de combustível: vou abastecer. Perguntei ao frentista se aceitava dólares, reais ou pesos uruguaios? NÃO! Mas cartão vc aceita, certo? Sim. E abasteci a moto.

Na hora de pagar o cartão não passa. Tenta outra máquina e nada. Tenta na Conveniência e nada... vamos falar com o Gerente.

O cara foi muito gente boa, no final das negociações ficou em 10 dólares. Paguei-o, agradeci e fui embora.

BURRO!!!!

Deveria ter trocado pelo menos mais 10 dólares para poder pagar mais um pedágio que tinha à frente... Conclusão: no pedágio disse que só tinha 1 peso argentino, reais e dólares.... O cara, muito gente boa também, pediu o peso e mandou-me seguir adiante.

Bem, chegando em Cañuelas não achei casa de câmbio. Eram quase 2 horas da tarde e ainda tinha quase 300 km de viagem até Azul, meu destino previsto. Pensei, pensei, pensei (todos esses pensamentos em menos de 30 segundos), e decidi ficar em Cañuelas para estudar o que fazer.

Parei num posto de polícia e perguntei sobre algum hotel. O policial foi muito gente boa: além de ligar para um apart hotel e fezer a reserva para mim, ele também fez um mapa indicando como chegar ao apart. Muito diferente do que o Gayvão Brueno fala de nossos brothers do sul do continente.

Para variar o apart não recebia cartão de crédito (se bem que não sei se passaria) mas, para minha sorte, o dono do estabelecimento estava com passeio marcado aqui para o Brasil e gostaria de trocar reais por pesos argentinos. Bem, paguei o hotel com reais e ainda troquei alguns para seguir viagem. BOM.

Apesar disso, essa parada foi providencial para decidir o que fazer dali para a frente. Com os problemas do cartão de crédito (até liguei para o banco aqui no Brasil e a atendente disse que já tinha feito o que tinha que ser feito) e com dinheiro que, apesar de suficiente para concluir a parte Argentínica da viagem, não comportava algum imprevisto que acontecesse dali para a frente, não vi outra alternativa a não ser dar meia volta e avançar.

É... Ushuaia ficou para trás. Lembrei-me do filme "Apolo 13", quando a galera teve que abortar o pouco na lua por problemas técnicos de sua astronave (apesar de eu não ter tido problemas mecânicos e/ou de saúde, graças a Deus). Fiquei triste mas não me digam que dessa água não beberei... ainda não morri.

Não dá para seguir viagem sem você ter certeza que tudo que você pode controlar esteja 100%. Entenda-se “tudo o que se pode controlar” como planejamento, roupas, acessórios, suporte financeiro, máquina e você mesmo. Até hoje estava tudo OK, dentro do previsto, e a mão direita doendo (e contente) de tanto acelerar. Mas deu dúvida... tive que arremeter.

O bom da história é que fiz uma viagem maravilhosa até agora. Paisagens, cidades e as diferentes culturas que pude vivenciar já valeram a pena. Conheci pessoas muito boas, graças a Deus, que sempre me ajudaram quando precisei. Depois vou listar algumas delas quando chegar em casa. Estou voltando com mais calma, agora sem a pressa inicial, por outros lugares, outras paisagens e tentando repetir o mínimo possível o caminho de ida. E vamos lá...

 

  • Dia 13- Cañuelas/ARG a Colonia del Sacramento/URU –  Travessia do Rio da Prata + 68 Km.

O Buquebus para Colonia saia às 10 horas, segundo o site, então planejei chegar em Buenos Aires com um bom tempo de antecedência para poder comprar, com calma, os tichets de embarque (meu e da moto).

O deslocamento de Cañuelas a Buenos Aires foi tranqüilo. Saí às 06:30 da manhã para não pegar trânsito mas, chegando perto de Buenos Aires, não sei de onde saiu tanto carro. A ariscuidade com o trânsito e com o trajeto a ser seguido era tão grande que não sentia o frio que era cortante (acho que Ushuaia estava mais quente que Buenos Aires nesse dia).

Acertei de primeira o caminho e fui direto ao terminal do Buquebus. Por sorte cheguei com muita antecedência para o embarque pois o Buque saia 1 hora antes do previsto no site (não sou mineiro mas não perco o trem kkkk).

 

                           No aguardo para o embarque no Buquebus, com destino ao Uruguai

 

Nessa travessia, já chegando em Colonia, o barco começou a jogar bastante. Fiquei meio apreensivo com a moto (lembram-se das duas cordinhas???) mas deu tudo certo.

 

                                     Chegada a Colonia del Sacramento, de dentro do Buquebus

 

Como cheguei cedo, o período da tarde ficou livre para eu conhecer a cidade. Realmente a cidade é muito bonita e com uma história interessante: ela foi fundada por Manuel Lobo, então Governador da Capitania Real do Rio de Janeiro, a mando do Império Português no século XVII.

                                        Colonia del Sacramento e Rio da Prata – uma ligação histórica

 

Agora estou planejando o dia de amanhã. E aí: Chui ou Jaguarão novamente? Ainda vou decidir. 

 

  • Dia 14- Colonia del Sacramento/URU a Jaguarão/RS – 568 Km.

É, decidi repetir o retorno por Jaguarão. Além de ainda não ter caído direito a ficha do abandono de Ushuaia, como estava ventando muito, e a temperatura também estava um tanto quanto "amena", decidi não ir por uma rodovia mais próxima da praia. Abortei então o retorno via Chuí.

Para sintetizar: temperatura em Ushuaia nesta manhã: 6° C; a temperatura em Colonia del Sacramento: 6° C. Bem “fresquinho”, mas uma bonita manhã, CAVOK, sem nenhuma nuvem no céu.

 

                                          Congelando na frente do Hotel em Colonia del Sacramento

 

Com trajeto já conhecido não aconteceram problemas. O único senão foi o vento, como disse anteriormente, que estava forte. Num trecho a moto chegou a fazer 15,5 km/l, muito inferior aos 18/19 km/l que ela vinha fazendo até então, e olha que vinha devagar, sem pressa. Outro ponto negativo foi o preço do combustível no Uruguai: é muito caro. Nem quis fazer a conversão para não ficar aborrecido mas, como sem gasolina eu não prossigo, "encha o tanque, por favor"...

 

Próximo a San José, Uruguai

 

Detalhes alfandegários: na saída do Brasil, na alfândega uruguaia, o rapaz me deu um papel que DEVE SER GUARDADO para ser entregue na sua saída, quer seja para retorno ao Brasil, quer seja para outro país, no meu caso a Argentina. A perda desse papel custa +ou- 80 réis no Uruguai. Já o ticket do Buquebus, da travessia Uruguai/Argentina /Uruguai, serve como visto de entrada e/ou saída na tanto na Argentina quanto no Uruguai (é um acordo entre os dois países). Você deverá guardá-lo também.

Em suma, NÃO se desfaça de nenhum papel que você receba em nenhuma das alfândegas nem dos tickets dos meios de locomoção de entrada e/ou saída quando transitar pela Argentina e/ou Uruguai. Simples assim.

 

                                             Ponte que liga Jaguarão/RS a Rio Branco/Uruguai

 

Quando cheguei a Jaguarão percebi uma certa quantidade de nuvens aproximando-se da cidade pelo setor sudoeste da cidade. Não bom...

Ao acessar o REDEMET para dar uma checada nas condições meteorológicas, verifiquei uma frente fria se aproximando de Jaguarão que saiu não sei de onde. Como não dava mais tempo de prosseguir até Canoas (eram mais umas 5 horas de viagem), "agasalhei", literalmente, o prejuízo do mau tempo... As previsões não eram muito boas: chuvas iniciando-se na madrugada e aumentando a partir das 8 horas local (em Canoas) e, em Pelotas, a "brincadeira" começaria mais cedo.

"Oh coitado", novamente.

 

  • Dia 15- Jaguarão/RS – Dia de calço (sem rodar)

Ao abrir a janela do meu quarto no hotel pude verificar chuva na horizontal. É que o vento era tão forte que a chuva passava pela janela como se eu estivesse dentro de um carro, a uns 100 km/h, olhando para os lados.

Esse dia fui obrigado a ficar parado devido às condições meteorológicas. A senhora do hotel disse que, desse jeito, existia a possibilidade de enchentes pelo caminho até Canoas, mais um motivo para ficar quieto em Jaguarão pois não adiantava sair e ficar no meio da estrada sem apoio. Fiquei acompanhando, e "secando", a frente fria o dia inteiro. Deu certo.

 

                                                             Zona Franca de Rio Branco/Uruguai

 

  • Dia 16- Jaguarão/RS a Canoas/RS – 409 Km.

Quem espera sempre alcança... o dia amanheceu ensolarado e segui viagem. Muitas áreas alagadas no caminho até Canoas em virtude das chuvas do dia anterior, sinal de que a “brincadeira”, no dia anterior, não foi mole não. Um animal (de 4 patas) cruzou na frente da moto a poucos centímetros; quase deu strike.

Ao chegar a Canoas reencontrei um grande amigo, Cerqueira, e sua família que não via há algum tempo. Degustamos umas cervejas e saboreamos um churrasquinho de primeira, relembrando vários "causos" de nossas vidas. Foi muito bom tê-los reencontrado novamente.

 

  • Dia 17- Canoas/RS a Lages/SC – 532 Km.

A BR 101 Sul, que por lá eles dizem ser Norte (???) a partir de Porto Alegre, é anos luz melhor que a BR 116 e seu conjunto de curvas que, se você não estiver intencionado em enfrentá-las, torna-se um tormento para sua viagem.

Na verdade rodei mais uns 40 km nesse dia pois errei o caminho perto de Urubici, mas tudo bem pelo dia maravilhoso, e pelas paisagens sensacionais que pude presenciar.

 

                                       BR 101 Norte? Pensei que fosse aqui pelas bandas de Natal...

 

SERRA DO RIO DO RASTRO: sem comentários... muitos e muitos motivos de alegria e contemplação. Quem puder, conheça-a. É muito bonita e muito legal percorrê-la. Tirei um pancadão de fotos. Muito legal mesmo.

 

                                    Serra do Rio do Rastro – um passeio imperdível e indescritível

 

E já que o papo é serra, o dia foi cheio delas. No caminho até Urubici (que infelizmente não deu tempo de conhecer suas atrações turísticas: o Pico do Couto e a Pedra Furada) as curvas estão muito presentes. De tanta serra estou quase aprendendo a contorná-las. E amanhã tem mais: Estrada do Rastro da Serpente, entre o Paraná e São Paulo).

 

  • Dia 18- Lages/SC a Ribeirão Grande/SP – 599 Km.

De Lages a Curitiba pela BR 116 sem problemas, a não ser pelos pedágios, 5 no total, que nos obrigam a parar, tirar as luvas, pegar a carteira, pagar o pedágio, guardar o dinheiro/carteira, colocar as luvas e seguir viagem.

É uma estrada muito boa, só não é perfeita, nesse trecho, porque não é duplicada.

Em Curitiba ingressei na Estrada do Rastro da Serpente. Foram as curvas mais travadas da viagem até agora... Após a cidade de Apiaí/SP essas curvas ficam menos cruéis, mas aí o asfalto não ajuda. A estrada está muito remendada e, em alguns pontos, esse remendo se soltou virando buraco. Uma vergonha pois a região é muito bonita e, devido a atenção que tinha que ser dispensada às crateras, não dava para aproveitar o visual da serra.

Foi o dia mais cruel a bordo da motoca: iniciei as atividades às 07:00 h e só as encerrei às 18:00 h. Foi a maior etapa em cima da moto até agora. Dia duro mas coroado com o reencontro de amigos que não via há 28 anos, fora o privilégio de conhecer suas famílias, pessoas muito amáveis e atenciosas... isso fez valer cada minuto de pilotagem daquele dia. Pena que, no dia seguinte pela manhã, tive que seguir viagem. Obrigado pela acolhida Carmo, Geraldo e famílias. 

 

  • Dia 19- Ribeirão Grande/SP a São Paulo/SP – 250 Km.

As estradas, nesse dia, não tinha do que reclamar: pistas no mínimo duplicadas e com excelente asfalto. Nos pedágios, ainda bem, as motos não pagavam... melhor ainda.

Enquanto na ida a prioridade era chegar ao destino o mais rápido possível (pelo menos era esse o planejamento), no retorno a ótica está sendo reencontrar parentes e amigos durante as passagens pelas cidades onde pernoitava. Foi assim em Canoas/RS, em Ribeirão Grande/SP e, a partir de agora em São Paulo/SP, Pirassununga/SP, Brasília/DF e por aí vai.

Nesse dia reencontrei meu irmão e sua família. Também já fazia um tempinho que não os via e está sendo muito bom.

 

  • Dia 20- São Paulo/SP – Descanso e visita a familiares.

Reencontro com meu pai e amigos em comum com meu irmão. Foram dias especiais.

 

  • Dia 23-  São Paulo/SP a Pirassununga/SP – 210 Km.

Viagem tranqüila pelas boas Bandeirantes e Anhanguera. O bom é que nos pedágios das estradas estaduais, em São Paulo, as motos não pagam.

Hospedagem no "Ninho das Águias", na Academia da Força Aérea, para matar as saudades e rever amigos, muitos amigos.

 

                          Área de esportes da Academia da Força Aérea, com a pista do 1° EIA à esquerda

 

                          Cachoeira de Emas, no Rio Mogi: lugar de se degustar um peixe muito gostoso

 

  • Dia 24-  Pirassununga/SP – Revisão na motoca.

Mais uma troca de óleo e acertos que se fizeram necessários (corrente afrouxou um pouco e ajustes gerais).

O tempo virou. Frente fria avançou e se juntou com uma área de instabilidade que estava na Amazônia. A chuva começou à tarde e não parou até agora. Previsão de trovoadas na rota. Não bom outra vez.

 

  • Dia 25-  Pirassununga/SP a Uberlândia/MG – 371 Km.

O dia amanheceu chuvoso em Pirassununga e as previsões não eram animadoras. Aguardei para ver o que iria acontecer e, como deu uma estiada na chuva, às 09:30 h local caí na estrada novamente (com o céu carregado de nuvens).

Nem cheguei a Porto Ferreira/SP, 15 km de Pirassununga, e a chuva já se apresentou para passear comigo. Ainda bem que era uma chuva fraca e ficou intermitente até próximo da divisa com Minas Gerais. Aí o tempo abriu um pouco e fiquei mais contente, mas logo voltou a chover como já vinha acontecendo anteriormente.

Cheguei a Uberlândia sem chuva, mas com o céu carregado. O acompanhamento das condições meteorológicas, pela net, está sendo uma constante. Acho que amanhã vai melhorar lá pelos lados de Brasília. É esperar para ver.

A estrada em São Paulo está boa. Em Minas, até Uberaba está boa mas com alguns "calombos" na faixa da direita. Depois melhora muito quando toma a direção de Uberlândia.

Amanhã vou ter que verificar a corrente da moto que voltou a afrouxar (acho que vou ter que colocar a antiga para seguir viagem). Vamos ver o que o mecânico diz em Brasília.

 

  • Dia 26-  Uberlândia/MG a Cristalina/GO – 303 Km.

Mais um dia com chuva.

Uma coisa é a gente pegar chuva no meio do caminho, outra coisa é sairmos com ela no "kengo". Mas se é o que tem que ser feito, tem que ser feito, e bem feito. E lá fomos nós (eu e a ruivinha).

Meus amigos, as luvas e botas a prova d'água mostraram para o que servem: não deixam a água sair de jeito nenhum de dentro delas. A chuva era tanta que fiquei com pés e mãos ensopados. O frio colaborava para melhorar a situação mas, para refrescar um pouco, tinha que andar com parte da viseira aberta senão embaçava tudo e ficava sem enxergar. Depois de um tempo tinha água dos lados de dentro e de fora da viseira.

Falar que eu enxergava era piada. Via vultos vindo ao longe, o que tornava quase impossíveis as ultrapassagens. Numa delas descobri o porque do controle de tração: como a Versys é nervosinha de motor, quando fui ultrapassar um dos primeiros caminhões da estrada, ao acelerar a traseira começou a rebolar de um lado para o outro, aquaplanando. Que sensação maravilhosa. Deve ser por isso que as motos de alta cilindrada tem controle de tração como item de série. Acho bom eles pensarem nisso para as motos de média cilindrada também, elas não ficam muito atrás das big trails.

Num dos trechos pensei estar entrando em uma área de neblina. Ledo engano outra vez... era a nuvem que estava fazendo NBA (navegação à baixa altura). Quando atingia um topo de montanha via a situação da chuva para a direção que estava seguindo. Sinistra a visão... tudo escurecendo ainda mais e as chuvas que iria enfrentar à frente desanimavam um pouco.

Cheguei em Cristalina rodando, até ali, apenas 6 km sem chuva. Eram só mais 127 km para Brasília mas estava perigoso prosseguir. Um caminhão à minha frente decidiu frear forte numa descida, no que quase não consegui pois meus dedos estavam duros de frio, apesar de eu estar os mexendo o tempo todo.

 

                                        Ruivinha chegando no Hotel em Cristalina: suja e molhada

 

Joguei a toalha e fui para um hotel. Muita emoção para um trecho curto de viagem. Ainda choveu o dia inteiro não só em Cristalina mas também em Brasília, meu destino para este dia.

 

                          Notem a altura da base da nuvem (a parte mais escura e densa): bem baixa

 

Não vale a pena correr riscos desnecessários sem necessidade (não estou em guerra!!!), ainda mais num final de jornada depois de tantos dias na estrada onde nossos reflexos ficam dispersos, cada vez mais, pois começamos a nos acostumar com alguns erros e situações não seguras.

Tomei um banho bem quente para não adoecer.

 

  • Dia 27-  Cristalina/GO a Brasília/DF – 127 Km.

Papai do Céu quebrou meu galho neste dia. Apesar do céu carregado, não choveu durante o percurso até Braília, o que deu para acabar de secar minhas luvas e botas.

O trecho foi feito com cuidado pois minha corrente voltava a me incomodar e, como já tinha falado com meu mecânico de Natal, se preciso fosse ela teria que ser trocada (eu levo a antiga, original, que troquei antes da viagem).

Fui direto procurar a oficina mecânica que levava minhas motos quando morei em Brasília. O rapaz lembrou-se de mim e verificou bastante minha corrente. Graças a Deus ele disse que ela estava OK. Devia ser neura minha. Ele a lubrificou e voltei ao hotel.

Não segui viagem pois Brasília fica numa posição onde não é possível seguir viagem depois de um certo horário uma vez que o próximo lugar para pernoite é Luiz Eduardo Magalhães/BA, que fica a 544 Km de Brasília, ou seja, depois do almoço não dá para seguir viagem.

Andei bisbilhotando a meteorologia e parece que amanhã vai dar praia, ou melhor, não vai chover.

 

  • Dia 28-  Brasília/DF a Barreiras/BA – 636 Km.

Saída de Brasília meio receoso: céu encoberto novamente, nuvens baixas e temperatura amena. Caindo na estrada, alguns quilômetros à frente, neblina bem forte mas, como diz o ditado: Neblina que baixa, sol que racha. E ele apareceu... e arrebentou a boca do balão. Fazia um tempo que eu não sentia calor. Que maravilha,,, Mas tá bom, né, não precisava ser tão forte kkkkk.

Esse trajeto geralmente é tranqüilo. Pouco trânsito, poucos caminhões e estradas retas. No stress. Cheguei cedo em Barreiras pois, devido ao horário de verão, ganhei mais uma hora.

 

  • Dia 29-  Barreiras/BA a Ipirá/BA – 649 Km.

Tudo volta ao normal: sol, mormaço e... Chapada Diamantina novamente.

 

                                         Morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina: imponente

 

Incrivel, cheguei a 1200 m numa parte da Chapada. Se eu estivesse no Paraná, com certeza. a temperatura seria um pouco mais "amena" que a daqui. KKKKK.

 

                                                        Ruivinha mandando bala na Chapada

 

Impossível passar por lá e não ter o que fotografar. Um caminhoneiro, na primeira vez que me viu parado, perguntou se estava tudo ok. Nas das outras vezes ele só buzinava (eu tirava as fotos, subia na moto, passava por ele e, como era obrigado a parar novamente pois o local pedia mais fotos, ele me passava de novo).

 

                                 Traje de verão mas, como é escuro, esquenta um pouco quando paramos

 

O consumo da moto está variando na casa dos 19 Km/l. Acho bom porque estou com alforges e mala sobre o banco, o que causa um arrasto acima do normal.

 

  • Dia 30-  Ipirá/BA a Maceió/AL – 659 Km.

Domingão de sol, dia de aproveitar e andar um pouco mais na estrada uma vez que, como acontece na maioria dos lugares, domingo geralmente é um dia de descanso, portanto, sinônimo de estradas mais livres, certo? Ledo engano 3.

Não sei de onde é que surgiram tantos caminhões na estrada nesse dia. Parecia que iria acontecer um encontro de caminhoneiros em algum lugar ao sul e outro ao norte de onde eu estava. Sinceramente, depois de tantos anos de estrada nunca vi nada igual, mas vamos que vamos. Seria melhor se fosse pior.

O detalhe negativo do dia foi a volta dos “cleck clecks” da corrente. Parei antes de Aracaju/SE para, uma outra vez, lubrificar a dita cuja. O problema é que, mesmo tendo lubrificado a corrente novamente, os “cleck clecks” continuaram... não bom...

Diminuí o ritmo e segui viagem até Maceió, onde fiz um reparo (estiquei) a corrente e a lubrifiquei novamente. Fiz um teste nas vizinhanças do pernoite e, ao que parece, os “cleck clecks” diminuíram, mas não acabaram. Aí surgiu uma dúvida cruel: onde é o problema? Na corrente, no pinhão, na coroa ou no rolamento? Só Deus sabe... Na dúvida, abri uma latinha para raciocinar.

 

                    Melhor forma de raciocinar ante a problemas que se apresentam em nossas vidas

 

Como só faltam uns 500 km até o final da viagem e como parar a moto em Maceió talvez não adiantasse tanto (uma vez que peças para ela somente as conseguimos, com alguma facilidade, em São Paulo), decidi "dar motor e acreditar", aliás, como sempre. Seguindo com calma com o "andor" que o santo é de barro.

 

  • Dia 31-  Maceió/AL a Natal/RN – 524 Km.

“Vamos nessa”, mais uma vez, com a mão direita contida como no dia anterior. Falta pouco para o término da Expedição.

O caminho já era um velho conhecido de outros carnavais: certeza de, depois que adentrasse no Estado de Pernambuco, estradas péssimas até a duplicação feita pelo nosso Exército Brasileiro.

Dito e feito... depois da divisa o asfalto/concreto sumiram em vários pontos. Quando vimos caminhões invadindo nossa pista é sinal de que o trecho ali não está bom, e várias foram essas ocasiões. As trocas de marcha eram constantes e eu com o receio da corrente... cruel.

Depois de Palmares/PE, porém, a estrada duplica e saímos do inferno para o céu em questão de metros. Dali, até em casa, certeza de boas estradas e muito menos stress.

Segui pegando bem leve e, no meio da tarde, adentrava à minha casa, graças a Deus.

Apesar dos detalhes da corrente, a moto agüentou o rojão sem stress, inclusive apresentando a melhor média de consumo de toda a viagem nesses últimos 2 dias, onde fui forçado pela razão à tirar um pouco a mão do acelerador: quase 21 km/l, muito bom para a moto "carregada até os dentes"...

Amanhã reservo o dia para um bom banho na guerreira e depois uma levada ao seu “médico particular”, para uma revisão geral que, por acaso, minha grande companheira merece.

 

  • Epílogo.

Combatemos, eu e minha companheira motorizada, um bom combate. No resultado final vencemos todas as batalhas que lutamos, sempre em comum acordo (eu respeitando seus limites e ela me entregando o que eu pedia). Apesar de não termos atingimos o objetivo inicial, com certeza, o saldo desta viagem foi muito positivo e nada desmerecedor.

A ruivinha guerreira comportou-se de maneira exemplar durante toda a viagem. Consumiu pouco combustível , dada às condições de carga além do normal, e às velocidades que foram desenvolvidas nas estradas por que passamos. Apesar do detalhe da corrente, que nos acompanhou depois de passarmos por São Paulo, a Versys em nenhum momento esmoreceu e sempre se manteve altiva frente às estradas que apontavam à sua frente. Freios, suspensões e equipamentos elétricos originais de fábrica não deram stress. O único senão foi o aquecedor de manetes que instalei: o botão liga/desliga se quebrou logo no início da viagem. O pneu traseiro deteriorou 500 km antes do previsto (mas também, fazendo curvas e acelerando do jeito que só a Versys é capaz, fica até difícil não deixar marcas no asfalto por onde passávamos), mas sua troca já estava marcada para ser feita em Porto Alegre/RS. A sorte foi achar um pneu compatível para substituir o anterior num ponto não previsto da viagem.  Benção divina.

Foram cruzados 2 países de norte a sul (Brasil e Uruguai) e um passeiozinho pela Argentina. No total foram rodados 11.490 Km sem contar os erros na estrada nem os deslocamentos dentro das cidades para se procurar os hotéis.

A viseira do capacete teve a oportunidade de acompanhar cenas de mata atlântica, caatinga, cerrado, vegetações de montanha, planaltos, planícies, serras, banhados, campos de cultivo/criação de gado, enfim, um sem número de paisagens de tirar o fôlego na maior parte do tempo.

Frio, chuva, calor, altitudes e ventos (às vezes só, às vezes em conjunto, às vezes todos no mesmo dia), marcaram toda a viagem. Talvez esse não seja o período ideal para se ir ao sul do continente americano; ainda se sofre um pouco as influências de frentes frias que mudam as condições climáticas em questão de horas, mas também não é nada impossível. Só não é tão confortável quanto viajar nos meses de dezembro/janeiro onde, acredito eu, sejam melhores para essa empreitada.

As bagagens foram acertadas. As roupas foram mais que suficientes (talvez, se tivesse feito a viagem toda, teriam dado no limite) tanto em quantidade quanto em funcionalidade (roupas adequadas ao frio do período e em quantidade adequada). Só mudaria um detalhe: fui com jaqueta e calça modelo verão (mais seus forros de chuva), acompanhados de segundas-peles para se usar por baixo desses equipamentos de segurança; o ideal, para mim, seria manter as roupas de verão para serem usadas até São Paulo e, a partir daí, utilizar uma jaqueta à prova d’água com forro de inverno – não que seja impossível fazer a viagem do jeito que fiz, mas seria um pouco mais confortável dessa maneira. A barraca, saco de dormir e forro são levados para não serem usados (só nas situações de emergência) ou caso você queira ver como é acampar na Patagônia.

Fora as alegrias citadas acima, outras, aliás muito mais importantes, foram as de cunho pessoal, que foram a tônica da segunda parte da viagem: o reencontro com amigos e familiares. Carmo e Geraldo, de Ribeirão Grande e Capão Bonito, ambas em São Paulo, que não via há 28 anos: um prazer revê-los e prazer maior ainda em conhecer suas digníssimas famílias. Meu grande companheiro de farda, Cerqueira e família, em Canoas/RS e minha própria família (pai, irmão, cunhada e afilhado) fora os amigos comuns com meu irmão Serginho, Adauto e Cia Ltda. Foi muito legal reencontrá-los outra vez.

O legal dessas aventuras é o tanto de gente boa que encontramos pelas estradas e pelas cidades por onde passamos. Só para listar alguns: O Carlos de Lins/SP, o Fábio de Jaguarão/RS, o pessoal do Hotel Blumenpark/SC, o apoio - de longa data - e sempre cortês do “Civil” e amigo Reginaldo (da Base Aérea de Brasília), do pessoal dos HTOs do Exército Brasileiro de Barreiras/BA e Maceió/AL (sempre prestativos e muito educados), os abastecedores de todos os postos de combustível por onde passei, ao companheiro da cabine de PEAJE (pedágio) perto de Ezeiza/ARG (que me acochambrou em 1 peso argentino que não tinha para pagar o pedágio que estava passando – não tinha trocado dinheiro), ao policial em Cañuelas/ARG que me ajudou a encontrar pernoite em sua cidade, e a todos aqueles que desejaram uma boa viagem e incentivaram a seguir sempre em frente.

Agradecimento especial à minha família que, sem o OK deles esta viagem nunca teria acontecido. Apesar de não concordarem muito com a ideia, com vistas à minha segurança e proteção, apoiaram o intento.

Um outro agradecimento mais que especial ao bondoso Deus que, desde o primeiro dia, acompanhou-me nesta jornada sempre me ajudando e alertando para os perigos que vinham pela frente. Acho que Ele deve tirar uns dias de férias agora pois trabalhou muito nestes últimos 31 dias. Meu muito obrigado.

Bem, como disse no início, o objetivo final dessa viagem infelizmente não foi atingido. Bom pois, desse jeito, a primeira grande batalha terminou... mas a guerra não. A batalha final, em Ushuaia, terá continuação.

A “FASE 1” da Expedição Cone Sul acabou-se. A “FAZE 2”, que será realizada justamente de onde parei nesta primeira etapa, já está nas pranchetas de planejamento. Aguardem, para o início do ano que vem que, se Deus quiser, tem mais.

 

                                               O negócio é "DAR MOTOR E ACREDITAR", sempre!